terça-feira, 19 de julho de 2011

Uma única história tantos personagens!!!

Ah, alguns realmente acreditaram que eu não ia falar de vocês? Imagino que para os mais discretos pudesse ser a salvação,  para outros mais carentes uma falta de atenção!! Mero engano, a todos estarei atenta, com tanto e tal zelo...quase parafraseando o poeta. Sem muitos devaneios hoje por aqui, quero de uma maneira muito simples e honesta fazer uma pequena homenagem relembrando as pessoas que trabalharam e ainda trabalham por SIMONE. E olhem aí por quem começo: 

 Anderson Amaral, mais conhecido como Chachá. Som direto. Um homem de poucas palavras, mas muito atenção. Como foi incomodado com o cachorro dos vizinhos, ou então, com a música sertaneja no almoço de domingo. E haja ouvido treinado para dar conta de perceber tantos ruídos do entorno. Um privilegiado, certamente, por ouvir até os suspiros mais silenciosos da equipe. Chachá, ritmo do reggae e coração grande demais para passar despercebido!! Obrigada pela humildade e entrega ao Simone. 


Daniel Donato. Foquista, assistente de câmera. Em alguns momentos ele foi considerado o mais chato do set, e não perdoava ninguém quando o assunto era chamar a atenção para fazer o foco. Um guri novo, que veio lá das bandas de Fortaleza, aqui no sul dedica toda sua jovialidade a entender como ninguém esse mundo da fotografia. De uma dedicação e disciplina invejável. Um centímetro, um milímetro, cada detalhe...mas tudo isso é deixado de lado depois da boa compania que és para uma cerveja. 

 Miguel Baierle. Assistente de tudo e figurante para quase todas as cenas. Certamente a pessoa mais calma e discreta do set. Ajudou com o café, com a máquina fotográfica, com o tripé. Mas, com certeza foi o ator mais disputado de um set. Figurante para todas as cenas: foi um jovem comprando chicletes num posto de gasolina; ator de teatro; com a turma na balada. Sem falar na sua presença sempre disposta para estar no quadro da cena para ajudar o diretor de foto na marcação de foco. Obrigada Miguel pela sua presença sempre em paz pelo set!! 

Pâmela Nunes. Produtora de objetos. A Pâmela o tal dilema da van. No início nos incomodamos um pouco com seus atrapalhados atrasos, depois nos acostumamos e até mesmo passamos a aceitar suas peripécias. Uma menina de bom coração, que ajudou a construir nuvens, dar volume para os objetos em cena, dar cor e luz ao SIMONE. Obrigada pela sua atrapalhada confusão que nos encantou em SIMONE...


 Rafael Schwendler. Figurino. De muito bom gosto, discreto, mas lá no fundo do quartinho não tinha travas na língua no meio da mulherada. Ajudou à todos dando aquele retoque final com delicadeza e sensibilidade. Obrigada Rafa pelos detalhes, pela amarras, pelos roupa mais indiscreta (rsrs)!! Por SIMONE!!


 Val Oliveira. Maquiagem. Essa mulher não tem preço. Maquiagem natural e toques de como ficar bem melhor no dia a dia é com ela mesmo. Gosto de sua sinceridade e quando bate o pé pedindo mais tempo ao assistente de direção. Sem pressão...por que com ela não funciona. Perfeccionista, fica nos arredores até o último momento. Tranquila? Só depois que o diretor diz: Corta!! Tranquila? Só quando ver o filme pronto! Acordou mal, nem por isso deixou de ir para o set, veste a camiseta como ninguém, e ainda nos momentos vagos dá uma melhorada no visual de todo mundo!! Eita mulher alto-astral!! Obrigada Val por tanta dedicação ao Simone e à todos nós!

Binho Lemes. Assistente de arte. Ele é sutil; Pega um objeto ali, um objeto aqui. Se distancia um pouco, dá mais uma olhada, que tal mais um retoque naquele quadro da parede ou um detalhe em cima do sofá. Isso sem falar da sua disposição na produção...como todo mundo bota a mão na massa, no café, sempre disposto a ajudar...De uma sensibilidade, o vi em muitos momentos seus olhos brilharem, talvez por que tenha se encontrado mais do que possamos imaginar nessa história de SIMONE. Obrigada Binho pela parceria e pela amizade por SIMONE!!


 Ana Luiza Bergmann. Atriz. A colega de trabalho. Discreta, já estava no set no primeiro dia. Voltou em outros dia bem mais falante! Ela é linda, amiga de Simone, atriz de teatro lá das bandas da minha terra: Sertão, no interior do RS. Obrigada Ana, por acreditar nessa história!!! Por acreditar no SIMONE e nos abrilhantar com seu sorriso manso!

Bruno Krieger Martins. Ator. O loiro. Sim, é isso mesmo, ele é o nosso loiro. O tão famoso loiro, capaz de tirar o fôlego de muitas mulheres. E tirou mesmo... quando chegou no set só ouvi as meninas pelos cantos aos cochichos! Mas, pena mesmo que a cena não foi até o final, Simone que ia se deliciar. Obrigada Bruno pela disponibilidade e vontade de fazer parte dessa história!!


Ohana Homem. Atriz. A ruiva. Sim, nossa ruiva. Que agora ganha o nome de Flor. Se o loiro tira o fôlego das mulheres, ela tiraria de todos os homens da equipe e das mulheres também, convenhamos. E uma noite bastaria para ela deixar seus ares, cheia de graça pelo set. Muito séria e super profissional! Saí dali admirando muito mais a atriz ciclista de Porto Alegre!! Obrigada Ohana pela coragem e sensibilidade com que encaraste este papel!!



 Farha Abdula. Produtora de set. O sotaque mais bonito do set, sem dúvida. A pele morena mais bonita do set, sem dúvida. O sorriso moçambicano que encantou pelo set, ah, disso não tenho dúvida mesmo. Que falar dessa menina? Na primeira vez em um set já teve que assumir toda bronca de uma produção, e te falo em  produção bem complicadinha. Em alguns momentos só me lembro dela voltando de fora do set, puta da cara por alguma coisa que não tinha dado certo ao telefone! Ela não tem travas na língua  e naqueles dias difíceis sobrou até mesmo para a companheira Paola. Mas, destacaria mesmo sua gargalhada gostosa e os ataques de risos depois de ouvir uma história contada pelo Bernardo. Obrigada Farha pelos risos e pelos dramas que também fazem parte de SIMONE!!


Paola Rodrigues. Produtora de set. O e-mail dela condiz muito com esta menina, nossa paolinha. Uma doce menina militante, que nos corredores da universidade é uma idealista, e nos corredores da ZApata uma idealista, idealizadora! Teve que crescer rápido aqui na ZApata essa menina, assumindo coisas de gente grande, bem grande. Em Simone, então, se amadureceu. Também, na sua primeira vez em um set, deu jeito de alimentar, buscar, aninhar e encantar todo mundo!! Obrigada Paola pela dedicação e por acreditar tanto em SIMONE!!


Camila. Figurino. O veludo é azul e ela é muito elegante! Dura na queda, passou um dia todo mal no set, nem por isso nos abandonou, e olha que de manhã cedinho descia ela cheia de mala com todas possibilidades de roupas. E confesso, para a falta de antecedência de quem seriam os figurantes, ela teve que correr atrás para dar conta de tanto improviso. E mandou bem, muito bem! Obrigada Camis por nos vestir e deixarnos ainda mais aconchegantes pelo set!!

Resumindo: Obrigada gente por tanta dedicação, por nos ajudar a fazer com que SIMONE de fato acontecesse!! 

domingo, 10 de julho de 2011

No filme Simone não se pode considerar como personagens apenas os devidos personagens escritos no roteiro. Em Simone tudo e todos tiveram seus devidos papéis tendo a oportunidade de opinar, contribuir e participar desta construção coletiva. Por isso, não só os atores foram personagens, mas também as locações, a luz, o figurino e mais do que tudo isso cada um dos profissionais que estavam na equipe, que impregnados com suas referências e seus olhares se entregaram a história e então fizeram parte dela. Neste sentido, mesmo que parecendo tarde, creio que este é o devido momento para falar destes personagens que estiveram por detrás das câmeras: uns mais discretos, outros mais agitados, alguns silencios, outros extravaganetes, uns elegantes, outros espalhafatosos. Mas, independente do 'estilo' assumido por cada um, todos que fizeram parte do filme SIMONE, foram personagens e de cada um este filme carrega suas marcas.

Mas, eu confesso é nesses momentos que mais tenho medo, quando tenho por meio de palavras que traduzir um pouco do que carrega cada um no olhar, em um olhar voltado para SIMONE. No entanto, depois de tomar um chopp com Simone Telecchi hoje, creio que tenha me dado coragem para lhes apresentar estas pessoas que de maneira tão confiável e humana nos ajudaram a construir esta história.


Juan Zapata, diretor. Não sei, se o chamo de idealizador ou de idealista. Mas, acredito, sinceramente que minhas fotos digam muito mais dele, do que qualquer palavra. Juan Zapata, demanda um complexo exercício de observação para se arriscar a traduzir o que carrega seu olhar. Mas, um bom tempo de convivência me permite dizer que este idealista e idealizador acima de qualquer coisa é um menino, muito menino, sonhador. Que gosta de carregar nos ombros o peso do mundo e a responsabilidade de fazer um filme de ficção, seu primeiro filme de ficção já com tantas dificuldades, mas é apenas um romântico que por vezes desconhece o limite e o entendimento dos seus sentimentos. E é por isso que ele fez SIMONE, carregado de tantas referências de seu mundo. Entre suas frases clássicas durante as gravações se destaca com certeza: 'que lindo eso'. Obrigado Juan por ter doado seu cachê, seu trabalho, seu sonho e principalmente sua poupança por SIMONE. Obrigado, também, por ter aberto as portas de sua casa, para ser locação, ponto de encontro, um lugar aconchegante e quentinho do lado da lareira, nas noites longas de frio e diárias intermináveis. 

Ah, Simone Telecchi a grande 'culpada' por toda esta história. A protagonista. Já vi e revi várias faces dessa mulher. De atriz, mãe, funcionária pública, esposa, obcecada por limpeza e companheira para um chopp, um café e sempre um bom teatro. Uma menina mulher, às vezes mais mulher, em outras mais menina. Cheia de medos, no entanto, bem mascarados por detrás da sua 'maturidade' de mãe. Cheia de vontades e anseios ressaltados nas suas expressões e desejos como atriz. Acreditava no começo que ela era muito paradoxal, depois ficou mais transparente do que ela mesmo possa acreditar. Se entregou de corpo e alma ao SIMONE,  e nem tinha como fugir disso, não é mesmo? Afinal é a sua história ali compartilhada, fragmentada, retomada, ou apenas, usada como pano de fundo para um processo criativo. Simone Telecchi obrigada por doar seu cachê, sua história. Por abrir as portas de sua casa para ser locação, local de alimentação, da busca de referências para o universo de Simone.

Roberto Birindelli. Personagem Pedro. Nosso galã da novela das nove? Que nada ele é nosso Pedro, tão palpável e acessível, que logo se tornou familiar. Quem não sente falta de lhe servir um chá bem quentinho e docinho, depois das longas cenas em que tiraste o fôlego de Simone e de quantas de nós?  Discreto na maior parte do tempo, em quase todos os outros momentos tem uma lista de piadas e trocadilhos. Disciplinado, leva a sério o trabalho como ninguém, afinal são 25 anos, não? Obrigado Roberto por ter doado seu cachê, seu carro, seu tempo e sua dedicação ao SIMONE.


Natalia Mikeliunas. Personagem Cris. A garota do quindim. Alguém vai querê seu sotaque uruguai misturado a um carioquês? Tirou o fôlego de todo mundo, entre homens e mulheres, foram poucos os não seduzidos. Mas, o pouco tempo juntas não foi suficiente para compreender os vazios de seu olhar e a plenitude na sua vontade de viver. Na imprudência permitida pelos seus 26 anos largou tudo no Rio de Janeiro e se aventurou a encontrar um bando de desconhecidos no Rio Grande do Sul, em noites de inverno e em diárias sem fim. Bueno, como não a conheci o suficiente nestes dias, sinto que terei que ir logo ao Rio para revê-la, quem vai comigo? Obrigada Natalia por ter doado seu cachê, sua coragem, seu humildade e seu lindo sorriso por SIMONE.


Edson Gandolfi. Assistente de direção. Sua frase virou 'mantra' no set, e não tem como não admitir que ele é o assistente de direção mais político da cidade. 'Tu é bom' era a resposta para qualquer problema resolvido, para qualquer boa atuação, ou então, por qualquer motivo. Portador de muitas referências e características nerd's ele sabe do que tá falando e sabe o que está fazendo. Mudar cronograma e rever o roteiro é com ele mesmo, afinal, Gandolfi: 'Tu é bomm'. Obrigada, por ter doado seu cachê, sua jovialidade, seu bom humor e sua vontade de ver SIMONE acontecer.
Bernardo Zortea. Diretor de arte. Admiro seu humor, por vezes, ácido. Sua praticidade envolta de muita sensibilidade. Bom gosto e estilo. Coloca seu olhar sobre um ambiente, sua mão sobre um objeto e tudo se transforma num sutil e particular conceito. Dono das histórias mais picantes do set, não tem medo de dizer o que pensa, quanto menos o que sente. Mas, é certamente o mais político e sensato de todos, por isso às vezes fica calado, mas só às vezes, por que de resto SIMONE é carregado de suas vivências. Bernardo, obrigado por ter doado seu cachê, sua criatividade  e especialmente suas histórias.
Pablo Chasseraux. Diretor de Fotografia. Na maior parte do tempo prático demais, nem por isso menos sensível. Creio que ele se entregou a fotografia como nunca com o filme SIMONE. A ponto de dizer quase todo o tempo: Temos? Com certeza sim! Por que ele sabia que estava ficando lindo, ao menos do que dependia da fotografia. E quando as diárias se estendiam, era o primeiro a falar: Vamos lá, que tenho uma mulher grávida em casa me esperando. Uma Simone linda, por sinal, que também andou nos brindando com sua visita no set. Pablo, obrigado por ter doado seu cachê, sua sensibilidade e experiência em 'brincar' com luz e sua confiança para continuar no projeto SIMONE.

A lista é longa e amanhã tem mais, muito mais. Aos poucos vou trazendo um pouquinho de cada um desses 'personagens' que fizeram parte desa história muito real...

quinta-feira, 16 de junho de 2011

O que se esconde por detrás do Olhar de Natalia Mikeliunas??


Estava sentada no banco de traz do carro e a luz do sol do início da tarde invadia seu rosto brando. A janela do carro estava aberta e o vento de Porto Alegre levantava seus cabelos morenos. Olhava para as nuvens, talvez para entender o ritmo delas por aqui. Ela comenta que não nos importamos quando fica muito em silêncio, afinal é introspectiva. E não foi nada difícil desvendar a introspecção da jovem atriz Natalia Mikeliunas. 

Com os traços perfeitamente delineados na sua pele alva e seus olhos portadores de um brilho sonhador de quem é jovem, ela carrega a vitalidade de procurar sempre novos horizontes e o sol para acalentar a alma. Natalia representa perfeitamente a concepção de menina/mulher: tens a leveza, a pele e o descomprometimento de uma menina, mas o peso e maturidade de uma mulher. Porém, tem apenas 26 anos. 






Provinda das bandas de Montevideo é mais uma uruguaia no nosso set, apesar de já estar morando cinco anos no Rio de Janeiro. Dela não tínhamos nenhuma referência a não ser as mostradas via internet. De nós ela não tinha referências a não ser as mostradas pelo mesmo meio virtual. E foi por meio desses encontros virtuais que conseguimos nos encontrar pessoalmente. E ela já é tão familiar, assim como Porto Alegre para ela é familiar, tendo a sensação de estar em Montevideo. 

Juan Zapata no segundo dia junto dela, não tinha dúvida de que a atriz tinha muito mais de Cris do que podíamos imaginar. E possui um encanto tão peculiar que seria difícil seguir o roteiro antes escrito. E é por meio do olhar que ela conquistou e encantou na frente e atrás das câmeras. Não saberia exatamente como descrever sua beleza, por que se trata de algo um pouco incomum. Não é das mulheres mais bonitas do mundo, mas seu olhar é profundo e leve o suficiente para desbancar qualquer julgamento estético. Ela é simples, basta olhar para a lente e a foto fica perfeita, por que naturalmente ela consegue nos levar a profundidade de um personagem, a profundidade complexa de si mesmo. 

Obviamente que não poderia apenas falar de suas perfeições, Natalia também teve dificuldades de se desvencilhar de certos medos, até mesmo vestida de um personagem. Mas era um personagem de extrema complexidade, sem dúvida. Por isso, em muitos momentos no set sua introspecção aumentava a ponto de ver algumas marcas de seu desassossego no rosto. Ficava mais calada e tentava se ausentar de todos. Em alguns momentos acreditamos na sua inocência, em outros estavamos certos de sua altivez. Mas, certamente o mais impressionante foi seu domínio diante das câmeras, mesmo que por elas tenha se deparado poucas vezes. Daniel Donato impressionou-se com o brilho dos seus olhos que sempre estavam voltados para o ponto de luz ideal no set, assim facilitando qualquer trabalho de fotografia. Fugia das sombras, queria luz. 

Foi comparada com Natalie Portmann, Winona Rider ou então com Amélie Poulain. Tenho que admitir que também buscava nela estas referências e creio que pela cabeça de muitos passou a pergunta: como ainda não foi descoberta? Mas, Natalia Mikeliunas tem apenas 26 anos, e a gana de vivenciar muitas coisas. Beira este limite entre o complexo e simples, tanto que por aqui nos deixou cheios de dúvidas e de vontades de conhecê-la com mais profundidade. 

Mas CRis esteve nela, assim como ela esteve em Cris, a ponto de remontar o
sentido de uma história, ou então de dar ainda mais vida a uma personagem que
parecia ser a mais secundária de todas. Uma vivacidade, que deixou a
personagem Cris e as circunstâncias de sua vida ainda mais ricas e intensas!!

Esta jovem atriz foi uma grande descoberta em nossas vidas, para o filme
SIMONE então chegou cheia de graça, invadiu com seu olhar e agora de volta
ao Rio de Janeiro já deixa saudades!!!

terça-feira, 31 de maio de 2011

Natalia Mikeliunas - mais um olhar estrangeiro no mundo de SIMONE...

Uma atriz uruguaia, que mora no Rio de Janeiro. A sensação de uma possível solidão vivenciada por um estrangeiro longe de seu país de origem. Ainda não sabemos se de fato Natalia Mikeliunas convive com essa sensação de solidão, no entanto, seu olhar vai longe em alguns trabalhos que a vimos. A cada nova foto ou vídeo, Juan Zapata reconhecia um pouco do olhar da personagem Cris, ou reconhecia ao menos a possibilidade de construir este 'mundo' de Cris.

Nas poucas palavras que compartilhamos Natalia confessa: 'Um pouco nervosa para te ser sinceira, mas é bom, isso nos mantém vivos!'. Partindo desse 'suspiro' estamos certos de que Natalia não entrou na vida SIMONE por mero acaso. Conversaremos mais com ela nos próximos dias, quando Natalia chega para apreciar o friozinho que começa a se aconchegar por este sul, parecido com os ares do Uruguai.

Se aconchegue neste mundo de SIMONE, Natalia, e bem-vinda a esta história!!!

sábado, 14 de maio de 2011

Nos seus traços, tantos embaraços: fragmentos de Roberto Birindelli!!


Em um sótão com janelas voltadas para a paisagem de um lago numa manhã fria, um homem de mais de 40 anos desenha traços finos sobre uma tela. São poucas cores no seu desenho. Volta e meia ele abre a janela e deixa que os raios de sol e o vento gelado daquele inverno toquem seus poros. O ‘pintor’ carrega nos olhos sua amante introspecção e gosta de permanecer em silêncio. Viveria recluso boa parte do tempo sem ganas pela liberdade de atravessar o lago.  


As palavras entraram muito tarde na vida do ator Roberto Birindelli, da infância nas ruas de Montevideo lembra ter sido um menino muito sozinho e talvez por isso tenha encontrado na pintura e na arte o refúgio para a criação de tantos outros mundos que iam se preenchendo de cores. Provindo de uma família pequena e de imigrantes, Roberto reconhece na sua peregrinação constantemente pelo mundo e pela vida a facilidade de adaptação. Adapta suas gavetas existenciais, ao mesmo tempo em que transgride suas formas no palco e na frente da câmera.

Birindelli não é o pintor do sótão da minha ‘licença poética’ no início do texto, mas me permito criar esta cena para vê-lo ali, especialmente depois de andar com ele introspectivamente pelos ares do parque Redenção em Porto Alegre. Há mais de 30 anos que Roberto e seus pais se mudaram para a capital, depois do Golpe Militar do Uruguai. Um golpe que por sinal foi muito mais forte que no Brasil e as péssimas condições de sobrevivência naquele país os fizeram migrar e então morar nas proximidades da rua Protásio Alves, em Porto Alegre. 


O ator não é uma pessoa simples de ser decifrada, creio que ninguém seja de imediato tão transparente, mas ele, eu confesso foi certamente uma das pessoas com que mais tempo levei e ainda levarei para adentrar nas nuances que carregam seus traços. Aliás, traços muito bem marcados em seu rosto um tanto envelhecido. Ele permanece em silêncio por muitos e longos momentos, quebra sua introspecção volta e meia em tom de piada. Nestes momentos seus traços ficam mais brandos, seu sorriso aparece entre a barba e sua jovialidade retoma a respiração. 


Antes do palco, Roberto Birindelli esteve entre os desenhos técnicos da arquitetura, mas tenho que admitir que sua dinamicidade é deveras interessante: adentramos em um espaço curioso na Redenção, neste local muitos senhores estão dispostos ao redor de diversas mesas de xadrez, uma luz entra por detrás das árvores e cria pequenos feixes de sol sobre os jogos. Num espaço coberto e com um corredor Roberto me leva para contemplar os homens que às 16hs da tarde jogam bocha nas duas canchas do local. Ele gosta de estar ali, afinal já foi campeão de xadrez da cidade de Porto Alegre, segundo Berindeli no ano que passou o cometa Halley...ele me olhou e riu: você nem devia ter nascido. Não mesmo!

Anda sempre com a mochila nas costas, não é um homem de estatura alta, aliás, não faz o feitio do ‘galante’ da novela das oito que eu tinha como uma possível referência. É um homem discreto e de silêncios, mas que quando fala expressa toda sua intensidade. E não são poucas suas vivências no palco – do teatro e da vida - para que ele tenha propriedade para tantas falas. Discípulo do dramaturgo Eugênio Barba, já circulou por países como Dinamarca, Itália, França, Cuba...peregrinando, pintando e quem sabe dançando...Sim, ele também dança. 


Sua letra é pequena e perfeitamente desenhada, os traços na sua testa quando está com dúvida também ficam perfeitamente desenhados...ele vai atuar como Pedro no filme SIMONE. Mas quanto de Pedro teria nestes traços? Talvez muito mais do que imaginasse Juan Zapata ao chamá-lo para o filme. No entanto, Roberto Birindelli admite que não tem interesse na história real de Simone Telecchi mesmo a conhecendo pessoalmente. Afinal, ele é ator e precisa engavetar e desengavetar suas referências de sentimentos de um personagem, muitas vezes tão longe do seu universo, no caso de Pedro muito próximo de si mesmo!!

E eu volto ao sótão, ao longe continuaoa contemplar o pintor de traços finos, hoje ele está a olhar mais pela janela. O lago continua com suas águas geladas, mas ainda estamos no começo do inverno aqui no sul. Sorte de Roberto Birindelli que agora morando no Rio de Janeiro pode tomar chopp às 15hs da tarde trabalhando sem sentir culpa, quanto menos frio. 

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Na sua lembrança...

“Eu penso em imagens congeladas numa fotografia. No entanto, esta não está impressa numa placa, parece desenhada a pena, é uma recordação, minuciosa e perfeita, de volumes suaves e cores quentes, renascentista, como uma intenção captada sobre o papel granulado ou uma tela. É um momento profético, é toda nossa existência, tudo o que foi vivido e está por viver, todas as épocas simultâneas, sem princípio nem fim. A certa distância olho esse desenho, onde também estou. Sou espectador e protagonista. Estou na penumbra, velado pela bruma de um cortinado lúcido. Sei que sou eu, mas sou também este que observa de fora (...) (ROLF CARLÉ, (1996), no livro "Contos de Eva Luna", de Isabel Allende)


Li e reli esta passagem de Rolf Carlé muitas vezes nestes últimos anos, desde que entendi a fotografia como uma das principais linguagens que consigo mostrar e de certa forma me ‘apossar’ do mundo. E para mim não existe melhor momento que o encontro entre o olhar de quem busca em fotografias referências de sua vida e o olhar de quem está nas fotografias. O espectador e o protagonista se encontram e são o mesmo olhar distanciados, apenas,  pelos “sais de prata”. E normalmente os melhores álbuns de fotografias estão lá na casa de nossos pais, guardado em velhos armários.

A casa de sua mãe agora tem três andares. A casa em que morou até seus 18 anos pode ser vista do terceiro andar da nova, é verde e bem mais baixa que esta. No armário da nova casa – no segundo andar – estão guardados muitos álbuns de fotografias. Por entre armários da antiga casa se passaram os melhores momentos registrados nas fotos guardadas. Uns álbuns são maiores, outros menores, em algumas páginas desses álbuns não vemos mais fotos, sinal de que mãos já estiveram por ali buscando referências do passado.


Estamos em Pelotas em uma manhã de sábado sentadas na sala da nova casa. Em menos de duas horas percorremos por muitos anos da vida de Simone Telecchi. Nas fotos vejo sempre seus cabelos longos e cacheados, bem distantes do novo corte. No entanto, não mudou muito seu peso. Simone sempre foi uma jovem muito ‘esbelta’, a ponto de caber em um vestido branco de quinze anos em que a cintura não é maior que o equivalente a três mãos juntas. E suas mãos percorrem ligeiramente sobre as imagens de outros tempos. Muitas delas são arrancadas dos álbuns, outros, no entanto, vão se deslocar inteiramente para Porto Alegre.

Simone se diverte ao olhar as fotos de sua infância e adolescência. Me confidencia algumas coisas em voz baixa quando passamos por algumas imagens, em outros momentos é só risos quando se vê.

Mas, nossa sede para reencontrar as referências de Simone não ficam detidas somente a revirar álbuns. É preciso sair as ruas de Pelotas para sentir o cheiro, o tom, as cores de uma tarde de outono e então relembrar trajetos antes feitos por aquela mesma menina que aparecia nas fotografias. Há poucas quadras de sua casa encontramos o colégio em que Simone estudou, mais adiante no centro da cidade encontramos a esquina do “Já comi”. Bela história esta: a esquina do “já comi” tem um bar em que a maioria dos freqüentadores eram homens e quando alguma mulher passava por ali, todos diziam: Essa? Já comi.

Simone, confessa ter sido uma das primeiras mulheres a freqüentar o lugar quando mais jovem. Sábado à tarde, sentamos no balcão e tomamos um suco de laranja com mamão. Pouco prestamos atenção no bar, acho que estávamos mais envolvidas pelo cheiro, gosto e tom daquela tarde pelas ruas de sua cidade natal.

Limitei-me a poucas palavras e me escondia atrás da câmera, queria que Simone estive em constante troca com ela, assim também com meu olhar.  E não é necessário palavras, quando se deseja apenas sentir o mundo ao nosso redor, quando se permite tocar o passado com sutileza e verdade. Acompanhei-lhe com a câmera por entre as ruas antigas de Pelotas. A horizontalidade da cidade faz com que nosso olhar se detenha a arte de andar por entre as história de uma cidade ao encontro da própria história dos passos de Simone por ali. E nosso andar era fluído, como é a miragem dos trilhos de trem que permanecem imóveis, enquanto sua perspectiva nos leva longe...tão longe.



Em uma passarela que atravessa a estação de trem antiga de Pelotas encontramos dois jovens que fotografavam na região, Simone lhes contou do projeto ‘Cinema em rede’ e ficou ‘encantada’ com a menina que dizia gostar tanto de fotografia. O encantamento foi ainda maior quando uma linda menina da redondeza correu para seus braços dando-lhe um abraço apertado. Simone não pediu este abraço, Simone nem sequer sabia que o teria. Mas crianças são assim: na sua inocente pureza conseguem mudar com muito pouco nossa concepção de vida. Foi assim que nos sentimos e saímos dali sob um arco-íris que se formava no céu e as nuvens que se abriam sobre nossas cabeças...deveras fervilhantes. Que linda luz aquela do final da tarde!



Não preciso dizer mais nada! Apenas que fiquem com a sensação da luz de um final de tarde de outono e do quanto é simples, fácil, sutil dar sentido para a vida e para nossa história. Não é mesmo Simone?

terça-feira, 12 de abril de 2011

O PRIMEIRO ENCONTRO COM SIMONE TELECCHI

ATO I - LEVE-ME...em alguns minutos...

Ela abriu a porta do prédio e me desmontou. Parece exagero, mas minhas pernas ficaram bambas e subi as escadas do prédio sem sentir ao certo para onde estava indo. Sua leveza subiu ao meu lado e adentrou em uma casa cheia de vida e de elementos que me causaram identificação imediata. Dorinha tomava sua mamadeira deitada no sofá da sala. A luz fresca da manhã invadia o aposento e perto da janela, rosas em tom de laranja enfeitavam uma pequena mesa. Convidou-me para sentar no sofá, e sua leveza sentou ao meu lado. Ali me sentia mais estável e então consegui tocar seu olhar e entrar aos poucos no mundo de Simone Telecchi. Mas talvez nossa inquietude não permitisse que ficássemos paradas. Nos dirigimos, então, a cozinha. Sentamos em torno da mesa e entre um gole e outro de água deixei que também sua vida deslizasse pela minha garganta. Limitei-me a pequenos movimentos de mãos, pois ao certo, elas continuavam nervosas.

ATO 2 – HORA DE PARTIR

Mãe, mãe...to indo embora. Disse Simone no ouvido da mãe no meio da noite antes de partir para Porto Alegre. Sem remorso e talvez com uma frieza e audácia que só se encontra no olhar das pessoas de 18 anos, Simone de carona em um caminhão deixa a cidade de Pelotas. Fugia das nuvens carregadas sobre a vida de sua mãe depois que ficou viúva. Talvez por que ela fosse leve demais para estar sobre aquele mesmo teto. Deixou o conforto da casa grande e do carro da família para vivenciar a casa do Estudante na UFRGS. Uma experiência maravilhosa, segundo Simone. E eu sabia o quanto era de verdade.


ATO 3 – HORA DE SE ASSUMIR

Agora é sua vez. Lhe disse a professora de dança perto de seu rosto ao cobrir seu corpo deitado sobre um sofá, enquanto esperava as colegas apresentarem seus números. Simone lembra até hoje daquele momento gritante de paixão despertada em sua adolescência. Depois são tantas lembranças e tantas mulheres, que lhe parte o coração ter perdido as fotos e os diários que um dia foram rasgados no chão de sua casa. Afinal, o ciúmes desperta tantos monstros, até os mais adormecidos em nós. Simone ao chegar em casa, olha para parte de sua vida rasgada e simplesmente entende que não há o que dizer. Mas disse...disse desde cedo a sua mãe que namorava meninas. Por que não reconhece dramas no ato de “ser de verdade”.

ATO 4 - HORA DE UM CAFÉ

Preferes café fraco, médio ou forte? Pergunta-me Simone ao atravessar a cozinha e tocar com suas mãos o escoador de café sobre a piá. Seu sorriso teria me penetrado tanto que não tinha como recusar aquele café, e queria um muito forte. Da sua formação em matemática, o trabalho como funcionária pública passamos pelas histórias de família, a relação com os irmãos, suas namoradas, suas razões e a falta delas. Também falamos de seus dois namorados... quando um deles, o atual marido se junta a nós na cozinha. É ele que hoje prepara o almoço da casa. É ele também que escreveu uma música para Simone e que entende ser perfeita para o filme.


ATO 5 – HORA DE DORINHA

Simone por alguns instantes me lembra um menino, pelo seu andar com passos mais largos, pelos seus braços que tanto balançam ao se deslocar. E ainda pelos seus leves cabelos curtos, que ela lava no tanque da área de serviço sem constrangimentos antes de nossas fotos. Ela parece ainda tão menino, isso é fato, mas sua altivez só não chama mais a atenção por que na casa também encontra-se Dorinha. A linda menina de cílios negros e pele morena é a filha de Simone. Dorinha tem três anos e entrou na vida de Simone, justamente quando ela e Juan Zapata já começavam a trabalhar o roteiro do filme, tanto que em função da gravidez o trabalho na época não pode continuar, por certo por que a época dele é agora.

Dorinha volta e meia se junta a nós na cozinha, às vezes falante, às vezes tímida, às vezes manhosa querendo colo de mãe. Conta-me sobre o machucado que tem na perna e chora quando seu pai troca o curativo. Depois volta sorrindo e me traz um brinquedo que toca algumas musiquinhas. Aliás, talento não lhe falta para puxar ao pai que é músico, pois logo depois sentada no chão da sala, ela canta de uma forma um pouco enrolada uma canção... Pergunto a Simone, como achas que vai ser com a filha quando assistir ao filme. Mas, nem nesse momento Simone aponta qualquer sintoma de dramatização e conflito existencial em relação as suas escolhas. E me olha nos olhos e diz: e tem que ter? De fato, não tem e agora começo a entender melhor o roteiro de Juan Zapata.

ATO 6 – HORA DE FOTOS

Ela lava os cabelos no tanque. Com o secador no banheiro os deixa mais desgrenhados. Retoca seu rosto com uma maquiagem discreta. Afinal, seu rosto de 37 anos está longe de precisar de uma maquiagem mais pesada para esconder as tão temidas rugas. De Simone queria apenas o olhar, mas tive o olhar, o tom, a pele, a face em diversos sensações. E a luz da manhã me presenteava ao entrar por entre janelas, vidros, cortinas, olhos e corpo. Por último ela sugere tirar a blusa para fotografarmos de perfil...Simone é voraz, eu não queria ir tão longe, não ainda... Ao nos despedirmos uma última frase: vamos crescer juntos.



ATO 7 – HORA DE PENSAR...